sábado, 10 de setembro de 2011


Walking dead volta em Outubro com nova temporada






Após uma longa espera estréia em Outubro a nova temporada de Walking Dead. Após muitas complicações durante as gravações, o diretor premiado Frank Darabont foi demitido sem muitas explicações, a série retorna prometendo muito sustos e emoções.
Baseada nos quadrinhos de Robert Kirkman, a série teve uma das maiores audiências do ano. Basta esperar mais um pouco e torcer para que os problemas não tenham prejudicado a qualidade da série.




Quem gostou da série, não deixe de ler os quadrinhos.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011


The Thing ganha remake


Quem não lembra do filme de 82 onde Kurt Russel enfrentava uma forma de vida que transformava as pessoas em aberrações medonhas em pleno gelo polar? 
Um dos melhores filmes de horror que já assisti, a cena do cachorro sempre me impressiona, ganhou um remake que estréia em Outubro no cinema.
Será que a nova versão vai ser tão apavorante quanto o clássico? 







Para matar a saudade, baixe aqui o clássico


Confiram o trailer da nova versão.


Crimson Ghost: A origem da caveira do Misfits




O mascote do Misfits é na verdade o personagem de uma série dos anos 50 chamada Crimson Ghost, mas acabou ficando mais conhecida como o símbolo da banda que criou o Horror rock.



Assista a série




Nova série da Mtv que satiriza filmes de horror. Uma patrulha especial enfrenta Zumbis, lobisomens e vampiros em cenas de muito humor negro. Vale conferir


Piloto
Link Rmvb



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sons of Anarcky de volta



Quem é fã estava contando as horas, mas a espera finalmente acabou
Já está na web o primeiro episódio da quarta temporada da série com os motoqueiros mais barra pesadas da TV.

AVI Megaupload
legenda

Rmvb Legendado


quinta-feira, 30 de junho de 2011

Piece of me




When I looked in my face
I saw a strange to me
I was walked away from grace
Trying to be what I am within

A dream within a dream
The end of my hope was near
I don’t want be someone else
This shit made my life a hell

But now all is gone
I finally found the peace
In the smile of my angel
I found my last piece

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Bom Garoto







Uma velha perde o equilíbrio e se agarra ao meu corpo, estamos dentro de um ônibus lotado a caminho do centro. Nunca gostei de velhos, me dão a impressão de que vão cair e quebrar como um vaso barato daqueles que se compra na feira. Espero morrer antes disso acontecer comigo. Peço desculpas, mesmo a culpa não sendo minha. Sempre tive essa mania idiota de pedir desculpas, acho que é culpa da minha mãe. Sempre me dizendo: Peça desculpas Marinho, bons meninos sempre pedem desculpas! Sinto saudade dela, com aquele imenso corpo de dona de casa que come mais do que cozinha, mas sempre com um sorriso franco nos lábios. Já faz algum tempo, quando ela me deixou eu ainda era um bom garoto.
Meu ponto finalmente chega, não agüentava mais um minuto ali dentro. Ônibus de cidade grande é o lugar onde mais se encontra idiota no mundo. É um “to precisando emagrecer, o Nelson disse que eu to ficando feia” pra cá, e um “meu filho recebeu uma revelação, sempre disse que Deus ia dar o dom pra ele” pra lá. È tanta baboseira que às vezes queria ter nascido surdo, minha mãe sempre dizia que a voz do povo é a voz de Deus, se for assim, acho que Deus deve ser burro. Que merda, quando eu era um bom garoto sempre concordava com minha mãe.
Estava mesmo precisando visitar a Carlota, ela não anda se cuidando, esta ficando desleixada. Quando a conheci, o cabelo era impecável, as unhas sempre feitas, sempre com algo carinhoso pra dizer. Chego ao apartamento dela, depois de subir os cinco andares de escada. Odeio elevador, não me agrada a idéia de confiar minha vida a uma máquina, minha mãe dizia que não se devia confiar nelas.  Ela abre a porta depois de tirar as duas trancas e a corrente, usa um vestido surrado verde com margaridas, e sai arrastando um chinelo velho para a sala.
-Tudo bem Carlotinha? Está precisando de alguma coisa?
-Agora você me chama de Carlotinha, Jair! Na ultima vez saiu daqui me xingando de tudo quanto é nome.
-Eu estava nervoso aquele dia, me desculpa. Vim te ver porque estava morrendo de saudade.
-Eu desculpo se você disser aquilo.
-Tá. Eu te amo meu bombom.
Ela me abraça comovida dizendo: “Eu adoro quando você me chama de bombom”. Como essa mulher é besta. Ela gosta do bombom, a Lourdes gosta de “coração”, a Silvana de “Tesouro”. Todas gostam de ser bem tratadas, mas não na cama. Lá elas gostam de puxão de cabelo, de tapa na bunda e mordida na coxa. Quando eu era um bom menino não fazia essas coisas.
A levo para o quarto já arrancando seu vestido, como sempre ela estava sem calcinha. Ela diz que marca e incomoda, é lógico que não reclamo.
  O sexo é rápido e mecânico, a muito perdeu aquela “magia” que aparece naqueles filmes água com açúcar que passam na TV, onde a mocinha morrendo de paixão se entrega ao rapaz que a ama e a respeita. Besteira, sexo é uma coisa natural, animal. Não tem nada de mágico ou bonito. É uma troca não muito higiênica de fluidos com fins reprodutivos. Mágico? Alguém deveria atirar nesses roteiristas.
Prometo voltar semana que vem, mas acho que não voltarei. A Carlota perdeu a graça, ficou insossa, não tenho mais desafio. Preciso arrumar carne fresca.
Chego em casa duas horas mais tarde, odeio São Paulo na hora do rush. Vou direto pro chuveiro, não sei por quê, mas sempre depois de encontrar uma das minhas mulheres, tenho que tomar um banho bem demorado. Como se isso lavasse meus pecados, me tornando um bom garoto de novo. Se minha mãe estivesse aqui não precisaria de mulheres, nem banhos.
Acordo logo cedo pela manhã, tenho que arrumar outra mulher logo. Decido vestir minha melhor roupa, mas antes tenho que passá-la, ainda bem que minha mãe me ensinou.
Sempre fico meio lento pela manhã, por isso derrubo a porra do ferro de passar no meu pé esquerdo. Ouço um barulho de galhos secos se quebrando quando ele o atinge. Uma dor lancinante sobe por minha perna como uma descarga elétrica. Sufoco o grito, não fica bem um homem gritar por aí. Minha mãe dizia que homem não chora.
Meu pé não está nada bem, resolvo ir a um hospital, público. Não pago o convenio desde que minha mãe se foi, ela sempre cuidava de tudo para mim.
Na porta de casa encontro Lourdes enquanto espero um táxi. Usa uma mini-saia azul e tamancos de madeira já meio gastos.
-Rogério! Que sorte te achar em casa hoje, queria te ver. Passei aqui a semana toda... Mas o que aconteceu com seu pé?
-Um ladrão tentou me roubar, reagi e ele me acertou o pé. Lógico que acabei com a cara dele, vai precisar de dentadura.
-Que coisa horrível, quer ajuda?
-Não! Depois eu te ligo, meu táxi chegou. Um beijo coração.
A pior burrada que fiz na vida foi ter trazido a Lourdes na minha casa. Agora ela vem aqui direto, tenho que fingir que não estou. Tem que ser quando eu quero, não quando elas querem.
Depois de alguns minutos, o táxi chega à porta do hospital. O taxista, um velho muito simpático, pergunta se quero ajuda. Respondo que não, é lógico. Entro no prédio.
Me dá arrepios à cena que vejo, inúmeras filas diferentes, cheias de gente de aparência humilde e cara de sofrimento. Chão sujo, velhos esperando em pé enquanto jovens permanecem sentados. Médicos e enfermeiros apressados que partem deixando as pessoas a falar sozinhas.
Isso é um absurdo, mas bem que eles merecem. Quem manda votar errado, o mundo está cheio de pilantra, mas também está cheio de idiotas.
Entro em uma fila, a da inscrição inicial. Uma menina de uns quinze anos está na minha frente. Seu rosto mostra inocência, o que contrasta com a barriga enorme, deve estar com uns oito meses. A molecada hoje em dia não sabe o que faz. È culpa das mães, se tivessem uma mãe como a minha duvido que estariam assim.
Uma meia hora depois chego ao guichê, uma atendente de má vontade mascando chiclete me atende.
-O que você tem?
-Preciso passar por um otorpedista.
-Sei...Mas o que você tem?
-Acho que quebrei o pé.
-Por que não disse logo, você vai ver o otorpedista.
-Como vocês atendentes sabem das coisas não? Me sinto muito mais tranqüilo sendo atendido por pessoas tão inteligentes e observadoras como você.
-Obrigado, próximo!
Sigo para outra fila, a da otorpedia. Estava olhando a perna do cara da frente na fila. Uma coisa horrorosa, cheia de pinos metálicos penetrando na pele. Aquilo com certeza ia estragar meu almoço.Quando ouço uma voz suave, mas ao mesmo tempo segura vindo da sala a minha direita:
-A senhora vai ficar bem, não se preocupe.
Não sei por quê, mas aquela voz mexeu comigo, era linda. Nunca ouvi algo parecido, já ouvi muitas vozes de mulher. Umas meigas, outras sensuais, outras decididas. Mas nenhuma parecida com aquela.Tento ficar imaginando quem será a dona daquela voz, mas não consigo. Resolvo entrar na sala e descobrir, mas bem na hora sou chamado pelo médico.
Entro numa salinha com uma maca, um armário, uma mesa e duas cadeiras. Sentado lá, está um rapaz que deve ser mais novo do que eu.  Devia ter uns vinte cinco.
-Tudo bem seu Mario? Disse ele lendo minha ficha.
-Mais ou menos, deixei cair o ferro de passar no pé. Acho que quebrou.
-Vou dar uma olhada
Lá estava eu, sendo apalpado por um médico de vinte e poucos anos, meu pé doendo pra diabo. E eu não conseguia parar de pensar naquela voz.O médico-se mostra muito competente apesar da idade, e depois de avaliar minha radiografia, que fiz no outro lado do hospital, me dá um papel para que engessem meu pé.


Sigo para a sala indicada no papel, fico feliz porque ao me aproximar da sala não vejo nenhuma fila. Sigo andando para a sala pensando naquela voz.Entro na sala e vejo uma enfermeira em pé junto a uma maca:
-Pelo jeito do seu pé, vamos ter que enfaixar.
Ela fala com a mesma voz doce que ouvi antes, aquela que não saía da minha cabeça.
Seus cabelos são negros da mesma intensidade do vazio que sinto, sua pele clara me lembra uma estátua grega. Tem os olhos também negros que parecem poder penetrar em minha alma, um corpo maravilhoso, seios duros e firmes, uma cintura que se afunila em um volumoso quadril. Ela veste um uniforme branco de enfermeira que mexe com minha imaginação. Seu rosto passa uma certa ternura ao mesmo tempo que determinação. Ela parece ser uma daquelas poucas pessoas que sabem o que querem.
Não consigo tirar os olhos dela, enquanto ela me examina com um olhar curioso.
Pela primeira vez em minha vida me sinto sem saber o que fazer em relação a uma mulher é como se ela me intimidasse. Nenhuma das minhas cantadas manjadas, mas que sempre deram certo, me vem à cabeça. Mal consigo abrir a boca e a única coisa que sai é:
Você não é muito de falar, né. Ótimo, assim não atrapalha meu trabalho.
Pegando o papel da minha mão, ela me manda sentar na maca. Devo ter demorado uns trinta segundos para sentar lá. Era como se meu corpo não me obedecesse.
Suas mãos eram ágeis e delicadas enquanto terminavam de enfaixar meu pé. Enfim tomei coragem e agi:
-Você tem ótimas mãos, pena que é só meu pé que está quebrado.
-È uma pena mesmo. O Armandão, o outro enfermeiro ia adorar engessar seu corpo todinho. Olha que ele tem uma mão enorme. A mulherada que vem aqui adora.
Não preciso me enxergar para saber que estou vermelho, sinto as faces ardendo de vergonha. Que mulher é essa? Tento de novo:
-Qual seu nome?
-Suzana.
-Lindo nome! Como a dona.
-É, ele fica lindo nesse meu crachá.
-Ah...Não vi, me desculpa. Não sei o que está acontecendo comigo hoje.
-Acontece.
-Você é tão linda quanto inteligente.E tem lindos olhos. É difícil se ver tudo isso junto.
-E você é tão machista quanto imaturo. E tem que cortar a unha do pé. È fácil se ver tudo isso junto. Pronto terminei, passar bem.
Fiquei sem ação, o que falar depois disso. Peguei um taxi e fui pra casa frustrado.

Meu pé formigava por causa do gesso, mas o que me incomodava mais era a coceira que tinha dentro da cabeça. Por que agi daquele jeito, por que fiquei tão nervoso na frente dela? Afinal ela é só uma mulher como as outras. Não, ela não é como as outras, é diferente. Minha mãe dizia que toda mulher tinha que cuidar do seu homem, esse era o papel da mulher. Então que tipo de mulher era essa que era tão segura de si? Tão esperta e independente?
Canso de pensar e ligo a T.V. Troco de canal repetidamente, sem achar nada que presta. Só aqueles programas populares onde se explora a desgraça alheia. “Menina de dez anos viciada em sexo”, “Quer posar nua, mas o marido não deixa”, “Teve um filho com o cunhado e agora vai revelar”. São os tipos de coisas que se vê nesses programas. E o que me espanta mais é que alguém ainda assista a isso, tenho uma teoria. O povo assiste a essa merda porque ameniza seu sofrimento, eles se dão conta que existe gente mais fodida que eles, e ficam achando sua vida de bosta um paraíso.
Desligo a T.V. e resolvo dormir, minha casa é simples, mas aconchegante. Meu quarto é o que eu gosto de chamar de “matadouro”. Uma cama redonda no meio, com quadros e livros em seus lugares. Gosto de criar uma atmosfera de cultura. Mulher gosta disso. Mas o mais importante é o banheiro, tenho uma banheira enorme onde cabe mulher de até dois metros. Não que eu goste de mulheres muito altas, o homem sempre deve ser o mais alto, todo mundo sabe disso. Mas nunca se sabe.
Durmo logo e tenho um sonho intranqüilo, nele minha mãe me persegue me acusando de não ser mais o mesmo, de ter deixado de ser um bom garoto.
Acordo suado pela manhã, São Paulo nessa época é abafado. Nem se pode respirar direito por causa da poluição. Se aqui não estivesse cheio de mulher fácil, eu me mudava pro interior. Levanto com certa dificuldade por causa do gesso, que hoje coça muito mais que ontem.
Tento tomar meu café da manhã tranqüilo, mas ela não me sai da cabeça. Resolvo ir ao hospital depois do almoço. Tenho que fazer algo.
Lá chegando encontro à mesma situação caótica de antes. Não perco tempo e vou direto pra sala do gesso. A porta está encostada, não ouço vozes, só ruídos que indicam que ela está lá. Resolvo fazer uma surpresa e entro sem bater, dizendo:
-Sei que sentiu minha falta, então voltei linda.
Dentro da sala está um cara enorme, deve ter uns dois metros. Vai ter enfermeiro grande assim lá no inferno. Veste um jaleco branco, que fica apertado no imenso tórax de marombeiro, e fahitez uma cara de pouco amigos quando me vê.
-Que historia de linda é essa, meu?
-Me desculpa, achei que fosse outra pessoa.
Nesse momento Suzana entra na sala com um livro na mão.
-O que você esta fazendo aqui?
-Parece que ele veio aqui me chamar de linda e dizer que está com saudade, vê se pode.
-Não é bem assim, eu queria ver ela.
Ela olha para mim e solta uma deliciosa gargalhada. Que me faz sentir-me o cara mais desgraçado do mundo. Nada dá certo com essa mulher.
-O senhor só tem consulta daqui a quinze dias, então é melhor não atrapalhar nosso serviço. A menos que você queira dizer mais alguma coisa romântica para o Armandão. Há, Há, Há!
Saio da sala com meu orgulho ferido, mas antes consigo ler o titulo do livro que ela carrega: Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo. Ela deve gostar de poesia, talvez esse seja o caminho.

Tento lembrar se conheço alguém que escreve poesia, ninguém me vem à cabeça. Sempre achei besta essa coisa de escrever sobre sentimentos. Eles devem ser escondidos, não expostos em algum soneto babaca. Minha mãe dizia que um homem não deve mostrar seus sentimentos, é sinal de fraqueza.
Vou até um velho sebo perto de casa, se arrumar alguns livros, eu consigo escrever. Não deve ser difícil.
Entrando na velha loja, sinto o cheiro de pó e coisa velha no ar. As paredes descascadas mostram que aquele não deve ser um negocio muito lucrativo. Atrás de um balcão antigo coberto por livros, está um rapaz de uns vinte e poucos anos. Magro, de óculos, usando roupas largas e surradas, aparenta um ar intelectual. Conheço esse tipo, acham que são superiores porque lêem livros e vão ao teatro.
-Hei camarada, você tem livro de poesia aí?
-O senhor procura algo em especial, posso lhe indicar algumas boas antologias.
-Quero um que mulher goste, que derreta elas.
-Lírico-amorosa, tem algum escritor favorito? Camões, Álvares de Azevedo, Vinicius?
-Vou ser bem claro, preciso escrever poesia para conquistar uma mulher. Por onde começo?
-O Allan Poe tem alguns ensaios sobre criação literária, O Versos, Sons e Ritmos da Norma Goldstein também é bom para começar.
-Dá para falar minha língua? Eu não sei quem são esses caras, nem quero saber. Eu quero uma poesia bonita pra uma mulher. Você sabe escrever?
-Eu escrevo algumas coisas, mas tenho vergonha de mostrar. Escrevo só para mim.
-Vamos fazer um negócio, eu te pago e você escreve. Aí eu dou para mulher e você fica sabendo se escreve bem ou não.
-Poesia é uma coisa muito pessoal, não sei se poderia.
-Deixa de ser fresco, pega esse dinheiro que eu volto na quarta feira para pegar a poesia.
-Poema, é assim que chamamos a realização concreta da poesia.
-Tanto faz, tchau.

Os dias demoram a passar, será que a poesia daquele magricela ia dar certo. Não tenho outra alternativa, já tentei tudo que eu sabia. Minha mãe dizia que não se deve paparicar muito mulher, elas não gostam de cara bonzinho que corra atrás delas. Mas dessa mulher valia a pena correr atrás, valia qualquer coisa. Só de pensar na boca dela, e naquela voz.
Quarta feira vou bem cedo ao sebo, meu pé não coça mais tanto. O ser humano se acostuma a qualquer coisa, esse é a sua maior qualidade e ao mesmo tempo seu maior defeito. Chego lá, o cara está com um espanador na mão tirando pó das estantes abarrotadas de livros.
-E ai? Escreveu a poesia?
-Escrevi sim, mas não sei se devo... É muito pessoal.
-O que é isso, ninguém vai saber que foi você. Pode ficar despreocupado, não conto para ninguém. E além do mais você não tem curiosidade de saber se sua poesia pode conquistar uma mulher?
-Ta, mas não lê aqui na minha frente.
Peguei o papel, cuidadosamente dobrado, de sua mão e me despedi com um aceno de cabeça. Já na rua resolvi ler o negocio, era uma daquelas baboseiras românticas que falam de alma, olhares e promessas de amor eterno, misturado com um negócio estranho de fome, não entendi nada. Acho que pode funcionar. Odeio esse tipo de coisa, gosto de ler livro de ação. Com tiroteio e uma bela mulher de seios fartos correndo dos assassinos na chuva de camiseta branca.
Depois de um almoço rápido e sem gosto vou de táxi até o hospital, antes passo em uma floricultura. Um arranjo de orquídeas vai dar o toque final. Adoro orquídeas, são flores bonitas e raras, e ao mesmo tempo selvagens e parasitas, adoro essa dualidade. Dou sorte, ela deve estar em horário de almoço, depois de uma rápida espiada só vejo aquele enfermeiro babaca na sala. Se ele não fosse tão grande, eu dava uns tapas nele por aquele dia. Peço licença entrando na sala, ele está sozinho e me olha de maneira divertida quando nota as flores em minhas mãos.
-Para mim? Quanta delicadeza, desse jeito você acaba me conquistando. Disse ele debochando de mim.
-São para ela, você pode entregar? Tem essa carta também.
-Posso sim distinto, mas te aviso. Essa mulher é fogo, nunca vi ela dar bola pra ninguém. Você vai tomar o maior fora de novo.
-Não custa tentar. Obrigado.
Me viro e saio do hospital, na saída a avisto. Ela atravessa a rua, está sem o uniforme. Usa um vestido preto que acaba um pouco abaixo do joelho, mostrando pernas firmes e bem delineadas. Ela não me vê, estragaria tudo, ela tem que achar que sou tímido, que aquele dia de ousadia não passou de uma exceção em minha vida. Vou para casa e fico esperando o telefonema, na carta mandei meu telefone. Odeio quando o controle da situação sai de minhas mãos, fica nas mãos de outra pessoa. É horrível esperar pela decisão dos outros. O dia passa e o telefone não toca.
Sonho novamente com minha mãe, mas dessa vez além de me perseguir me acusando de não ser mais um bom garoto, ela me acusa de estar a abandonando. Acordo e checo a secretaria eletrônica, nenhuma ligação.
O dia demora o triplo para passar, e nada daquele maldito telefone tocar. Já estava me preparando para ir dormir quando ele toca. Atravesso a casa o mais rápido que posso com a perna engessada, com medo de que ela desista se eu não atender logo.
      -Alô. Eu gostaria de falar com o Mario.
Sinto meu coração disparar ao reconhecer a voz dela, aperto o fone contra a cabeça e respondo.
-Sou eu, tudo bem? Não imaginava que você fosse ligar, fui um idiota aquele dia.
-Realmente foi, nem parecia à pessoa sensível que me escreveu aquele lindo poema.
-Eu sou meio tímido e acabo assumindo essa postura ofensiva para que não me magoem.
-Gostei muito do poema, me pareceu algo romântico, mas tinha alguns traços de pós-modernismo, a incerteza do homem pós-moderno vivendo em meio a um mundo que não entende e o sufoca.
-É... Um pouco dos dois, sempre me sinto sufocado.
Resolvi mudar o assunto, se ela continuasse falando nessas baboseiras de intelectual eu ia acabar me ferrando.
-Você quer jantar comigo amanhã? Eu queria que você conhecesse melhor, meu lado sensível.
-Vou ficar encantada, me pega no hospital às oito. Um beijo
Desliguei o telefone tremendo de alegria, sai saltitando pela sala esquecendo meu pé quebrado. Minha mãe sempre falava algo sobre mulheres que aceitam sair com um homem que mal conhecem. Estranho, não consigo me lembrar o quê.
Demoro a dormir, a euforia não deixa. Não sonho.

Chego ao hospital na hora marcada, um homem sempre deve ser pontual, é um sinal de responsabilidade. Espero lá fora, não demora muito e ela aparece usando um vestido longo azul escuro, salto alto e maquiagem leve.
-Você está linda, não achei que você conseguiria ficar ainda mais bonita.
-Obrigado, eu não sabia em que lugar íamos comer, então me arrumei um pouco melhor.
-Parece que você adivinhou o que eu estava pensando, vamos a um restaurante fino que conheço.
Pegamos um táxi ali mesmo e fomos a um restaurante alemão muito bom que eu conhecia, o (nome do restaurante). Logo na entrada checo o lugar como sempre faço, antigamente fazia isso procurando mulher no lugar. Hoje estou observando o ambiente, o clima é muito importante para uma conquista.
Sentamos numa boa mesa, o maitre vem logo e pedimos um bom vinho para começar.
-Fiquei surpresa com o que escreveu, foi você mesmo?
-Uma fome que não é de dilacerar, cortar, ou mastigar. É a pior fome de todas, a fome de sonhar.
(Ainda bem, que decorei um pedaço do poema, eu tinha certeza que ela me perguntaria.).
-Nossa! Com você recitando fica ainda mais bonito, esse poema fala sobre a ânsia que o homem tem pela arte, não é algo que se possa controlar. É quase como uma fome mesmo.
-É, foi exatamente isso que eu quis dizer, o homem sempre tem fome de arte. Agora me fale mais sobre você, onde aprendeu tanto sobre poemas?
-Eu leio desde pequena, sempre adorei. Comecei lendo Monteiro Lobato, adorava a Emilia. Desde então não parei mais. E você?
-Igual, meu avô me deixou um monte de livros, sempre estou lendo alguma coisa.
-Que livro você está lendo agora? Estou lendo o homem duplicado, do Saramago.
-Eu...Estou relendo a lira dos vinte anos. (Ufa!).
-Eu adoro esse livro, você não acha que na verdade o Álvares não viveu nada do que escreveu, ao contrário de Castro Alves, que teve uma vida amorosa agitada.
-Com certeza, o Castro Alves era o cara mais mulherengo que existiu. (Quem é Castro Alves?).
Me levanto e vou ao banheiro depois de pedir licença, tenho que pensar em algo rápido, antes que ela perceba que eu entendo tanto de livro quanto o Ratinho de física quântica.
Volto para a mesa e ela me olha com aquele olhar que eu conheço bem, olhar de garota apaixonada.
-Já te disseram que você fica linda quando sorri, acho que deveria fazer isso mais vezes.
-Sou uma pessoa um pouco séria demais, por isso gosto de gente engraçada. Se uma pessoa consegue me fazer rir com certeza ela é muito boa nisso.
- Alguém tem que falar para aquele seu companheiro de serviço tirar os cabides de dentro da roupa antes de usar. (Seja engraçado, seja engraçado).
-Há, Ha, Há. O Armandão é um barato, não é tão sensível quanto você, mas é um bom amigo. De que signo você é?
-De sagitário com ascendente em escorpião. (Odeio essa baboseira de signo, mas mulher adora, então aprendi o suficiente).
-Combina com o meu, sou de virgem. Já o ascendente eu não sei.
-É por isso que você é mais séria e reservada, aposto que também é organizada.
-Muito, coloco tudo separadinho, tudo tem seu lugar no mundo.
-É, e acho que nesse momento meu lugar é ai do seu lado, essa mesa no meio da gente me incomoda.
Disse levantando e colocando a cadeira ao seu lado. Ela sorri e passa o braço ao redor de meu corpo quando sento. O toque dela é maravilhoso, sentir seus braços ao meu redor me faz sentir uma segurança absurda, como eu não sentia desde que minha mãe me deixou.
Acaricio seu rosto e a beijo. Ela beija muito bem, devagar, esfregando sua língua nos meus dentes. Pego sua mão e olhando dentro de seus olhos digo.
- Nunca senti por ninguém o que estou sentindo por você. Eu te amo. Você mal chegou na minha vida e já está mudando tudo. Pela primeira vez sinto que sou completo, que não preciso de nada. (Não sou poeta, mas tenho meus momentos).
Ela começa a chorar após me ouvir, suas lagrimas são sinceras, cristalinas e puras. Seu rosto esboça um sorriso de felicidade que me faz sentir o cara mais feliz do mundo.
O resto do jantar é maravilhoso, conversamos sobre tudo. Comemos um saboroso prato à base de repolho e salsichão que ela pediu e fomos para a casa dela.
A noite é mágica, ela se desnuda com uma certa timidez em minha frente. Posso notar a perfeição de seu corpo, sua pele branca e macia de encontro a minha me faz delirar. Ela ama como uma menina que acabou de descobrir o amor, mas com uma intensidade que poucas vezes vi. Combina ingenuidade com desejo, timidez com volúpia.
Pela manhã me despeço com um longo beijo e promessas de amor eterno. Vou para casa, para minha surpresa Lourdes me espera em frente à minha porta.
-Oi amor, melhorou do pé? Fiquei tão preocupada que resolvi te esperar. Onde você dormiu?
-Lourdes, aconteceram algumas coisas e tenho que ser sincero com você. Não dá mais para te enganar, chega de viver essa vida de mentira.
-O que foi? Você está me deixando preocupada. Fala logo.
-Eu...Não fui assaltado, deixei o ferro de passar cair no meu pé. Estava no hospital fazendo fisioterapia essa noite. Mas não via a hora de te ver de novo.
-Eu sei que você quer parecer machão, mas comigo não precisa inventar essas mentiras. Eu te amo como você é.
-Também te amo, nunca senti por ninguém o que estou sentindo por você. A gente se vê amanhã, to cansadão.
Me despeço com um beijo, entro em casa e tomo um banho bem demorado.