quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Digestão


Minha poesia não vem do coração
Esse amontoado de músculo sem muita serventia
Que nos cega e nos transforma em crianças novamente
Crianças ingênuas brincando com um escorpião numa caixa de areia

Minha poesia não vem da cabeça
Peça tão obsoleta quanto o velho batedor
A razão é uma maldição em um mundo de caos
Cientistas idiotas tentando entender os mistérios da alma humana

Minha poesia não vem do suor
Não cato pedra em feijão, com pedra é mais gostoso
Quero antes perder meus dentes e ser banguela mastigando pedra
Do que só comer o selecionado, preparado por um chef famoso

Minha poesia não vem do gênio
Não transcendo, nem beijo o dragão e nunca tomei absinto
Meu gênio é a hipocrisia, a dualidade de quem se julga inteiro
 Achar-se dentro de um túnel escuro sem luz no final, sem saber como chegou lá

Minha poesia vem do estômago
Mas não o estômago Camiliano de Silvestre da Silva
Meu estômago é acido, revolto e imprevisível
Não escrevo, apenas vomito o que comi.

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